Mariana Rosa Cavalli Domingues
Doutoranda
em psicologia UNESP – Bauru; psicóloga clínica e judiciária. mrc.domingues@unesp.br
Taciano Luiz Coimbra Domingues
Doutorando
em psicologia UNESP – Bauru, psicólogo clínico e judiciário. taciano.luiz@unesp.br
Resumo
A partir do trabalho como psicólogos do Tribunal de Justiça
de São Paulo, foram feitas avaliações psicológicas com pessoas trans que
buscaram o judiciário para a alteração do nome próprio e do registro do gênero
em seus documentos pessoais. Paralelamente a realização de entrevistas
psicológicas pautada numa escuta psicanalítica, foram realizados estudos
teóricos que embasassem os laudos. A sensação descrita pelos transexuais de não
pertencimento ao sexo biológico, abre uma reflexão sobre a dificuldade de
simbolizar e entender o corpo transpassado pela cultura e suas normas
culturais. Desta forma a teoria psicanalítica permite compreender a forma com
que o sujeito desenvolve sua sexualidade para além de sua genitalidade. A partir dos estudo de
Freud e Lacan é possível afirmar que o ser humano começa a existir antes mesmo
de sua concepção quando, no desejo dos pais, já existe simbolicamente, muitas
vezes com um nome. Neste sentido, o nome próprio
é uma das formas iniciais de pertencimento a um grupo social e sua simbologia.
Os modelos culturais e os padrões familiares que levaram a escolha de um nome
podem oferecer as primeiras forma de identificação que serão a base para a formação
do eu. Pensando nisso a alteração de nome implica numa operação que remete às
origens. Por outro lado, a escolha por um novo nome também mostrou estar
vinculada a história de vida e carregar significados de um renascimento. Alguns
casos atendidos apontaram no sentido vincular, onde os nomes escolhidos são
homenagens a pessoas importantes em sua trajetória, ou a ídolos. O conceito de
identificação desenvolvido por Freud e Lacan permite compreender a passagem
pelo complexo de Édipo e Castração de uma maneira menos estreita. Há uma
importância subjetiva neste ato, que gera sensação de pertencimento e
dignidade. Mesmo assim não se deve esquecer a certeza da falta, a falta
que cada um tem como inscrição própria ao sujeito desejante.
Palavras chave: transexualidade; mudança de nome; mudança de gênero; psicanálise.