DOI: 10.5281/zenodo.7529534

 

Mariana Rosa Cavalli Domingues

Doutoranda em psicologia UNESP – Bauru; psicóloga clínica e judiciária. mrc.domingues@unesp.br

 

Taciano Luiz Coimbra Domingues

Doutorando em psicologia UNESP – Bauru, psicólogo clínico e judiciário. taciano.luiz@unesp.br

 

Resumo

A partir do trabalho como psicólogos do Tribunal de Justiça de São Paulo, foram feitas avaliações psicológicas com pessoas trans que buscaram o judiciário para a alteração do nome próprio e do registro do gênero em seus documentos pessoais. Paralelamente a realização de entrevistas psicológicas pautada numa escuta psicanalítica, foram realizados estudos teóricos que embasassem os laudos. A sensação descrita pelos transexuais de não pertencimento ao sexo biológico, abre uma reflexão sobre a dificuldade de simbolizar e entender o corpo transpassado pela cultura e suas normas culturais. Desta forma a teoria psicanalítica permite compreender a forma com que o sujeito desenvolve sua sexualidade para além de sua genitalidade. A partir dos estudo de Freud e Lacan é possível afirmar que o ser humano começa a existir antes mesmo de sua concepção quando, no desejo dos pais, já existe simbolicamente, muitas vezes com um nome. Neste sentido, o nome próprio é uma das formas iniciais de pertencimento a um grupo social e sua simbologia. Os modelos culturais e os padrões familiares que levaram a escolha de um nome podem oferecer as primeiras forma de identificação que serão a base para a formação do eu. Pensando nisso a alteração de nome implica numa operação que remete às origens. Por outro lado, a escolha por um novo nome também mostrou estar vinculada a história de vida e carregar significados de um renascimento. Alguns casos atendidos apontaram no sentido vincular, onde os nomes escolhidos são homenagens a pessoas importantes em sua trajetória, ou a ídolos. O conceito de identificação desenvolvido por Freud e Lacan permite compreender a passagem pelo complexo de Édipo e Castração de uma maneira menos estreita. Há uma importância subjetiva neste ato, que gera sensação de pertencimento e dignidade. Mesmo assim não se deve esquecer a certeza da falta, a falta que cada um tem como inscrição própria ao sujeito desejante.

Palavras chave: transexualidade; mudança de nome; mudança de gênero; psicanálise.